sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Experiência complexa

Quinta-feira, 15 de Dezembro de 2016, 03h33 (madrugada).

A esta hora a casa estava silenciosa e toda a gente dormia. Como num dia qualquer tinha-me deitado um pouco cansado, mas tranquilo. Por volta dessa hora um pesadelo começou a tomar conta do meu sono.
"Estava na casa de banho do piso inferior, 1º andar, no poliban. Tomava um duche quando repentinamente a luminosidade decresceu, o ar começou a ficar pesado e irrespirável. Sentia-se no ar algo maligno, prestes a atacar-me, mas não conseguia ver nada nem ninguém. Quis fugir, mas senti-me empurrado e as minhas costas foram projetadas contra a parede. A presença de algo, de uma massa de ar que se predispunha a sufocar-me, fez-me ir buscar energias ao fundo do meu ser para dar um grito de defesa, de libertação... Primeiro um grito rouco, depois um grito bem audível em toda a casa."
Ao meu lado a minha mulher deu um salto e acendeu a luz e do quarto ao lado veio o meu filho ver o que se passava. Tranquilizei-os: "Está tudo bem,  foi um pesadelo..." E na minha mente só pedia ajuda a Deus e pedia-lhe que afastasse de mim aquele cálice. Confesso que fiquei assustado e com medo que o pesadelo voltasse. Mas graças a Deus não voltou e acabei por adormecer e descansar um pouco.

Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2016, 10h10 (manhã de sol de inverno).

Um vírus de gripe estava a fustigar a minha casa desde o início da semana. Ainda não havíamos recorrido ao médico, mas fomos obrigados (eu e a minha mulher) a deixar de trabalhar desde quarta-feira, dia em que não tivemos forças para sair da cama. Em sete anos de atividade no atual negócio, era a primeira vez que não abríamos por doença. A minha situação era a mais complicada. A minha mulher pressionava-me para ir ao médico e eu anuí... Primeiro decidi tomar um duche, pois o estado gripal havia-me feito transpirar bastante. Entrei na casa de banho do 1º andar, no poliban, e abri a água quente. Quando a temperatura da água estabilizou, meti-me debaixo do chuveiro. Mas comecei a sentir-me mal. Vómitos, tonturas, um mau estar crescente... De repente pareceu-me ver a luz diminuir e senti os meus pulmões com dificuldade em respirar. O ar parecia rarefeito e eu precisava de oxigénio. Uma enorme pressão tomava conta da minha cabeça. Por momentos não sabia o que fazer. De repente fechei a água, gritei pela minha mulher e saí do poliban. Quando a vi à minha frente, só tive tempo de lançar os meus braços à volta do seu pescoço... Estava a desfalecer e sentia a vida a escorrer de dentro de mim... Ela conseguiu sentar-me na sanita que se encontrava com a tampa fechada e chamou pelo Tiago... Eu já não estava dentro do meu corpo físico. Via-me desfalecido e a começar a dissolver-me... A casa de banho tem menos de 2 metros de largura, mas a cerca de 6 metros de distância estava um homem magro, vestido de preto, cabelo curto também preto. Olhava-me fixamente. Embora ciente que da minha boca não saía qualquer som, repetia a frase "Pai ajuda-me." Pedia ajuda a Deus. Não sabia o que se estava a passar, mas sabia que só Ele me podia ajudar. E cada vez mais sentia a vida material a afastar-se. Tinha a sensação que mais minuto menos minuto o meu corpo progressivamente se desintegraria ou diluiria e desapareceria no chão... A imagem do homem continuava igual, mas maior, estava agora a menos de 1 metro de mim. Subitamente pedi "Jesus salva-me." E eu não estava a pedir para não fazer a transição que começava a ficar cada vez mais evidente. Eu só queria que Jesus me salvasse, me recebesse no seu Reino. E ouvi então uma voz (só eu ouvi) que disse claramente, com poder, com força, com determinação "NÃO!" De repente senti-me regressar ao meu corpo físico. Recuperei os sentidos e ainda ouvi a minha mulher a dizer ao meu filho: "Liga para o 112." Eu tinha a certeza que o 112, o socorro do Instituto Nacional de Emergência Médica, jamais chegaria a tempo... Repeti a palavra "NÃO" que havia ouvido e pedi água com açúcar. Ela hesitou em me largar, mas eu disse que o podia fazer, pois sentia que Jesus me segurava nesse momento. Ainda com os olhos fechados dei o primeiro golo e retive um pouco a água debaixo da língua. Sabia que assim o açúcar seria mais rapidamente absorvido pelo meu organismo. Comecei a sentir gotículas de suor na minha testa. Rapidamente se espalharam ao resto corpo e comecei a transpirar. Aquele suor era o meu corpo a voltar à vida. Tomei mais água com açúcar e a primeira coisa que me ocorreu foi dizer. "Obrigado Senhor, que se faça a Tua vontade e não a minha". E na minha mente estava claro que me estava a ser dada uma missão que tinha de cumprir, porque para isso fui devolvido a esta vida, que mais não é do que uma passagem para o outro lado, onde tudo será diferente.

E ainda aqui estou hoje. Até quando Deus quiser. À procura de concluir a missão que Ele tem para mim; convicto que tenho de dar testemunho das suas Boas Novas.

Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida