Quando me sentei, confesso que não sabia ainda sobre o que ia escrever.
Vai daí...
Respirei fundo... Agradeci a Deus e à natureza o oxigénio, para já não muito poluido, que encheu os meus pulmões. Olhei à volta e vi a penumbra a cair no final de um dia de Outono. Admirei as nuvens, as árvores que de minha casa ainda se veem, os prédios ao longe com tantas janelinhas a cintilarem... Agradeci também a possibilidade que tenho de viver num país que não é constantemente bombardeado, que não tem ruinas da guerra e corpos dilacerados espalhados nas ruas.
Revi na minha memória algumas viagens que dei pelo interior, onde paisagens maravilhosas teimam em sobreviver a tapetes de alcatrão e construções modernas. Lembrei-me do meu amigo Eça e da forma como ele descreveu a rendiçao de Jacinto às paisagens do Douro. Tive vontade de viver nessa época em que o comboio era a carvão e em Tormes, à noite, a luz era de velas.
Depois lembrei-me da minha juventude e de em terras beirãs ter passado algumas horas, de noites de Verão, deitado a apreciar as estrelas. Como era engraçado... Mas hoje tenho saudades dessa beleza do firmamento e hoje que tenho maturidade para a apreciar melhor, os candeeiros da minha cidade teimam em me boicotar esse prazer.
Mas fecho os olhos e não deixo que a minha imaginação seja travada. Os problemas do dia a dia ficam pequeninos, arrumados a um canto. A minha alma enche-se de força e de coragem. Caminho descalço sentindo o fresco da relva nos pés e a brisa na face. Sinto-me parte da natureza... Sou sem dúvida uma criatura de Deus. A única com livre arbítrio. A única que intelectualmente nenhuma ditadura, política ou de stress, consegue subjugar.
Obrigado meu Deus pela força que me dás...
Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida
Sem comentários:
Enviar um comentário