sábado, 19 de abril de 2008

O culto da gravata...

Já trouxemos a este blog temas religiosos, mas sempre inspirados no Cristianismo. Nunca aqui falamos de outros cultos, mas todos sabemos que há países onde se adoram animais, outros onde se presta culto aos astros e ainda a outros símbolos...

Ainda não está devidamente organizado, nem tão pouco legalizado, mas nos últimos anos em Ovar há um culto novo, que se tem vindo a afirmar... Trata-se do culto da gravata...

Quem diria que passados mais de 30 anos sobre a data da revolução que pugnou pela liberdade de expressão e pela igualdade de direitos, um dos símbolos de "status", obrigatórios no antigo regime, viria a ter em Ovar (e arredores), um culto tão relevante.

Em Ovar e arredores se se quiser ser bem atendido numa loja, é imprescíndivel o uso da gravata. Se se pretender um atendimento correcto nas estações dos Correios, só se consegue se se usar gravata. Até nas instituições bancárias, a forma mais ou menos atenciosa como somos atendidos, tem a ver com o uso da gravata...

Não estou a especular. Quase todos os anos, durante as minhas férias faço questão de visitar uma das agências daquele que é o maior banco privado portugês... Exactamente, esse que optou por um nome com letras repetidas e que graças às suas últimas gestões andou nos noticiários dias a fio... Mas voltemos ao assunto, se eu for vestido desportivamente e com a barba por fazer, sou tratado quase como se tivesse lepra e a despachar... Lá acabam por me atender, quanto mais não seja para me verem sair porta fora. Um dia houve em que eu saí, cheguei a casa, fiz a barba, vesti uma das minhas melhores camisas e coloquei uma gravata de seda natural. Voltei lá e de tal modo me atenderam que até senti relutância quando me cumprimentaram... Cheguei a ter a sensação que me iam beijar as mãos... Trataram-me por senhor doutor e convidaram-me a entrar para ser atendido mais em privado... Enfim...

Na altura pensei como era lamentavel as pessoas venderem-se às aparências, hoje compreendo e acredito que se tratou de um mero culto religioso. Não era a mim que bajulavam, mas à minha gravata... Hoje sei que afinal eles são adoradores de gravatas e seguidores do culto da gravata. E como os adoradores deste culto não são fácilmente identificaveis, por uma questão de segurança, em Ovar, eu passei a andar de gravata, não vá eles virem para as ruas ou mesmo tornarem-se violentos com quem não usa gravata...

Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida
Publicado pelo «Ovar News» com referência a este blog

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