Durante o sono, sonhei, mas terá sido sonho ou pesadelo? Durante as horas de repouso, através da
minha mente algo me foi revelado. Não vou ousar interpretá-lo, mas
desafio-vos a meditarem e procurarem a resposta nos vossos corações, porque um
dia me disseram que as interpretações corretas eram as que eu mesmo descobria,
quando conseguia meditar e focar-me no Deus que se fez Homem e habitou entre
nós.
As nuvens dissiparam-se na minha frente e vi uma igreja. Não me recordo do edifício ou da porta, mas sabia que era local de culto. De repente encontrei-me no seu interior. Não vou descrever
pormenores da igreja, porque entendo que pode ser qualquer uma. As mensagens
Divinas são transversais a todos aqueles que creem independentemente de estarem
mais perto ou mais longe da Verdade que Ele nos revelou, mais perto ou mais
longe d’Ele, porque só Ele é o “Caminho, a Verdade e a Vida”.
No templo de adoração os convidados para a ceia
acotovelavam-se uns aos outros na ansiedade de serem os primeiros a ser
servidos. Esqueciam que o Primeiro foi o que serviu e não o que foi servido.
Cânticos e orações ecoavam nas paredes, mas não conseguiam abafar totalmente
alguns murmúrios.
Vi ao fundo a mesa posta, mas o meu olfato não captava
qualquer odor a pão ou a alimentos. No entanto a imagem era convidativa. Na mesa, os alimentos resplandeciam e uma réstia de sol que entrava pelas janelas
expunha o rosado do vinho.
Comecei a caminhar pelo corredor central, em direção ao púlpito
que se encontrava ao lado da mesa, mas quanto mais passos dava mais longo era o
caminho. Não estava num tapete rolante em
sentido contrário, mas quando olhei para os meus pés vi que estava descalço e
não saía do sítio. Naquele momento senti um certo embaraço e procurei ver se
alguém me observava, mas dentro de mim uma voz me questionou porque é que
estava preocupado com o mundo?
Eu sei que queria chegar à mesa, que já estava rodeada por
muitos, mas não conseguia vencer a distância. Dei comigo a mastigar aquilo que
via ao longe, aqueles alimentos brilhantes e bonitos à visão humana e algo me
voltava a questionar, se era mesmo aquilo que queria? Não tem odor, não tem sal.
Então percebi que a comida, cujo odor não chegava a mim, também estava insossa.
Parei de caminhar e fechei os olhos. Quando os abri, vi que
junto a mim tinha uma outra mesa. Vários ingredientes dos quais logo se
destacava o saleiro e a farinha. Então senti vontade de cozinhar o meu próprio
pão. Meti, por assim dizer, as mãos à massa. Não demorou muito que se
espalhasse pela sala o aroma a pão fresco.
Alguns dos convidados abandonaram a
mesa à distância e vieram até à minha. Outros continuaram lá a acotovelarem-se
e a ingerirem grandes quantidades do que havia. Reparei então que uma garrafa
grande, maior do que é habitual, de vinho tinto que estava já aberta à minha
direita e senti vontade de verter o néctar num copo e antes de o partilhar com os que me rodeavam, pegar nele e dar graças ao
Criador. Obrigado Jesus pelo sangue que derramaste na cruz!
Senti que Aquele em quem eu creio, ao ver o meu
espanto e a minha dificuldade em decifrar o momento, sorria para mim…
Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida
Bíblia Sagrada, Livro de Atos dos Apóstolos 2:17 "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos;"
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