O meu sonho já passou a barreira dos quarenta anos.
Na altura não tínhamos televisão por cabo e muito menos internet ou smart phones. No canal 1 da televisão era preciso esperar pelo domingo à tarde para ver um filme. O canal 2 só iniciava a emissão às 18h e encerravam ambos às 24h.
Tive uma professora de português que provocou a nossa turma convidando-nos a entrar nas histórias que líamos nas suas aulas.
Para mim o comboio de Jacinto, personagem de A Cidade e As Serras de Eça de Queiroz, a entrar em Portugal, com o escritor a descrever as paisagens e até os aromas das aldeias do Douro, fez-me sonhar. A descrição da ceia de Jacinto em Tormes, levou-me a outra dimensão, a dos sabores e naqueles anos de parcos recursos, como era bom partilhar, mesmo que só em imaginação, a ceia com o personagem.
A partir daí continuei a ler outros livros. Nunca mais parei. E continuei a viver as histórias, como a professora me havia ensinado, ou seja, como um personagem adicional. Em determinado momento os meus sonhos não se confinaram aos livros que lia, mas a histórias que brotavam dentro de mim, como a água que sai naturalmente duma fonte, numa aldeia remota do nosso país.
Comecei a sonhar vir a ser um contador de histórias. Não ousava me comparar a Eça, a Júlio, a Camilo ou a qualquer outro. Sonhava somente em passar para o papel a minha imaginação. Fui escrevendo e guardando meia dúzia de contos ou de textos (hoje dir-se-ia posts). Só que os meus perderam-se no tempo.
Em 2007 comecei a escrever este blog. Metade dos posts apaguei-os passado algum tempo, mas outros não tive coragem de o fazer e permanecem com o subtítulo de Retalhos da Minha Vida.
Veio a pandemia em 2020 e terminei o meu primeiro grande livro, começado 3 anos antes. Em 2021, durante 3 meses escrevi o segundo, ambos com mais de oitenta mil palavras. Mas ainda não publiquei nenhum. Durante 2020 comecei um trabalho em coautoria. Desta vez um livro, com mais de trinta mil palavras, que além dos contos em si, tem também uma parte técnica sobre organização de processos logísticos e uma parte motivacional de incentivo, que pretende, além de tudo, ser inspirador.
E o sonho está prestes a realizar-se com a publicação deste último livro em coautoria, mas só estará totalmente realizado quando publicar os dois primeiros também. E já agora, quando terminar o que presentemente tenho em mãos e que é baseado em factos reais, por isso mais difícil ainda de escrever, porque há que disfarçar os locais onde se passa a história e principalmente não revelar os verdadeiros personagens.
Acredito agora, mais do que nunca, que brevemente completarei totalmente este sonho.
Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida