sexta-feira, 25 de abril de 2014

40º aniversário de uma revolução (25-04-1974 / 2014)

A ditadura vinha a sofrer cada vez mais pressões internas e externas. A campanha de Humberto Delgado para as eleições à Presidência da República foi a semente da consciencialização. A entrada de Marcelo Caetano no governo foi a maior decepção dos portugueses que acreditavam que o professor podia mudar alguma coisa. Não demorou muito a que os portugueses se apercebessem que com Salazar ou com Caetano a merda era a mesma e que era necessário uma ruptura profunda. Recordo-me que na altura foi posta em circulação uma moeda de 10 centavos de Escudo, cunhada numa liga de alumínio e muito brilhante, que foi baptizada de Marcelinho, isto porque, segundo o povo, brilhava muito e valia pouco.
Por seu lado a guerra colonial consumia enormes meios, principalmente do ponto de vista militar. Os oficiais de carreira não abundavam e os que existiam eram para preencher os cargos burocráticos. Havia necessidade de operacionais e Caetano decidiu criar a possibilidade de os oficiais milicianos ascenderem a postos superiores a alferes. Através de uma formação relativamente curta de cerca de meio ano, eram promovidos a capitães. Era o famoso decreto-lei 353/73 e estava assim dado o motivo principal, para os militares saírem do seu conforto e fazerem uma revolta.

Faz hoje 40 anos que um grupo de militares se revoltou contra a ditadura e o povo deu uma mãozinha para que a revolução não resultasse em mais um fracasso como o que havia acontecido um mês antes, mais concretamente a 16-03-1974, quando uma coluna de militares, havia saído das Caldas da Rainha com destino a Lisboa, para derrubar o regime e foi rapidamente dominada pelas forças fieis à ditadura.
A verdade é que a grande diferença entre os dois movimentos, o 16/3 e o 25/4, esteve no apoio popular que Salgueiro Maia rapidamente conquistou ao chegar ao Terreiro do Paço e que mais tarde voltou a ser decisivo no Largo do Carmo, em Lisboa.

Com o povo na rua e o habitual comodismo dos portugueses que, antes de tomarem uma decisão, gostam de saber para que lado pende a balança, os escassos meios de Salgueiro Maia e o controlo dos media foi suficiente para demover as forças de Cavalaria 7 e da GNR enviadas para aniquilar os revoltosos.

A marinha recebeu instruções para disparar sobre o Terreiro do Paço mas, segundo Pinheiro de Azevedo, o povo aí presente intimidou-os; teria sido um banho de sangue de civis e o bom senso dos marinheiros levou-os a não disparar e mais tarde aderirem ao movimento.

A Força Aérea era a grande esperança do regime, por diversas vezes em 25 de Abril, Caetano perguntou pela aviação. Mas esta força era uma elite dentro das forças armadas e o seu comodismo e portuguesismo fez com que não aderindo ao movimento se mantivessem neutros até saber quem levava vantagem no xadrez das operações.

Caetano solicitou ao comando do quartel do Carmo que fizesse sair os chaimites da GNR para o Largo do Carmo e tomasse posições, mas também este "se cortou" porque as notícias seriam que os militares daquela corporação poderiam beneficiar financeiramente com este golpe.

O mesmo foi transmitido por militares que percorreram as esquadras da Polícia de Segurança Pública (nas grandes cidades), solicitando aos polícias que não resistissem e que não obedecessem às suas chefias caso os mandassem fazer frente aos militares. Na sequência do golpe eles, militares, garantiam que iriam haver aumentos de salário e equiparações das forças militarizadas às forças militares.

Mais difícil era a situação da PIDE ou DGS que no pós revolução dificilmente seria perdoada. Mas a verdade é que apesar de terem sido os únicos a fazerem derramar sangue nesse dia, mais tarde tudo se diluiu e hoje têm reformas chorudas equiparáveis às dos militares.

Pode-se questionar que a revolução serviu de muito pouco; essa é a conclusão mais triste passados 40 anos. Temos alguma liberdade de expressão, mas é só o que hoje nos resta. A classe política que emergiu da revolução foi virando à direita e as políticas actuais são tão ou mais fascistas que as de então. Os militares durante estes anos todos receberam benesses e promoções e foram-se contentando e calando. Hoje já não há "Capitães de Abril"; eles, orgulhosamente, passaram a ser Generais e as preocupações com os ideais de Abril ficaram reduzidas a discursos nos dias feriados e com a televisão presente... Os brandos costumes dos portugueses, o comodismo e o medo da mudança levaram-nos e levam-nos ainda hoje a aceitarem como um rebanho de animais irracionais a vontade dos novos opressores. E mais grave é que mesmo aqueles que poderiam e deveriam ser uma alternativa não demonstram vontade para tal e acomodam-se nas suas pequenas percentagens de eleitorado... E os senhores do poder, aqueles que alternam a governação entre si, chamados à dias por uma deputada da AR de "partidos do arco da dívida", fazem leis à sua maneira para poderem assaltar bancos, roubar o dinheiro dos portugueses e saírem sem ser condenados, muitas vezes prescrevendo os seus crimes vergonhosamente. Mas o saque foi repartido por muita gente, alguma que nem nós imaginamos e quando até o PR recebeu, que mais dizer?


(Este artigo está inacabado e será actualizado à medida que a inspiração me for chegando, isto se entretanto um dia à noite não parar à minha porta uma carrinha escura e uns senhores de chapéu e gabardine vierem cá dentro prenderem-me e acusarem-me de "reviralho"...)

Domingos António Cabral
Retalhos da minha vida